Caso da iraniana condenada à morte

sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Caso da iraniana condenada à morte desperta atenção à falta de estrutura jurídica do mundo

Relacionamento Brasil-Irã não se abala, mas caso reabre discussões sobre os direitos da mulher

Por Alessandra Sabbag


O caso da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, repercutiu grandiosamente no Brasil e no mundo. Em 2006, ela foi punida com 99 chibatas por manter atos ilícitos com dois homens estando viúva, sendo que um deles é acusado de assassinar seu marido. No ano seguinte, durante um julgamento em Tabriz, ela foi condenada à morte por apedrejamento por cometer adultério quando ainda estava casada.

A sentença de Sakineh gerou protestos no mundo todo, entre países e organizações internacionais, e surgiram campanhas globais para absolvê-la pedindo a revogação da pena. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a oferecer asilo no Brasil se valendo da amizade que os dois países hoje possuem. Porém, voltou atrás dizendo que é uma pessoa muito emocional e que fez um pedido “mais humanitário do que político”.

“O Irã tem um comprometimento muito grande com a religião que sempre tem um grau de interferência. Ele é fechado em si mesmo. O Irã não faz parte de nada, não assinou nenhum documento, então ele não tem que cumprir nada”, afirma Beth Russo, jornalista, advogada e ex-presidente do Comitê de Estudos e Projetos Pró-Equidade de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP).

Beth ainda crítica a relação Brasil-Irã, lembrando que vivemos em um ano de eleições, um momento político. “É um cenário, uma relação internacional artificial. É puro interesse comercial. É necessário ter uma oposição mais firme, pois, em uma política externa errônea, não podemos pactuar com países que não respeitem os direitos humanos”, conclui a também conselheira do Conselho Estadual da Condição Feminina – órgão ligado a Casa Civil do Governo do Estado.

A cada dia o caso ganha uma nova versão e surge no cenário uma nova queixa contra a iraniana, de que ela teria envolvimento com a morte do marido. Então, o governo do Irã condenou Ashtiani à morte, desta vez por enforcamento. Nesta terça-feira (24), o porta-voz da chancelaria iraniana, Ramin Mehmanparast, ao falar com jornalistas, fez uma advertência ao Ocidente: "Os países independentes não permitem a outros países que interfiram em seus assuntos judiciais."

Direitos da mulher e o papel da Justiça

Casos como de Sakineh, no Irã, e de Eliza Samudio, no Brasil, embora bem diferentes, chamam a atenção do público para um fator especial: a Lei Maria da Penha e os direitos à proteção da mulher. Maria da Penha sofreu duas tentativas de homicídio por parte do marido, e o caso, não sendo resolvido dentro do país, foi levado às justiças internacionais. Já Eliza Samudio, apesar de não ser casada com o goleiro Bruno, ex-Flamengo, foi brutalmente assassinada e os acusados, incluindo o jogador, aguardam julgamento.

“Ainda estamos no preconceito, na má vontade. A justiça atrasada no Brasil, por exemplo, é uma injustiça. É uma violência. A desvalorização da mulher existe em qualquer lugar do mundo”, comenta a advogada. Beth Russo diz que mulheres e homens estão longe da igualdade, uma vez que a mulher trabalha fora, ganha menos que o homem, tem afazeres domésticos e cuida dos filhos. “Precisamos criar políticas públicas para fazer com que a mulher tenha o mesmo espaço do homem. Quem acabar de comer que lave seu prato. É uma luta de equidade, pois cada vez mais acrescentamos coisas contra a mulher: ela é negra, ela é feia, índia, gorda”, conclui.

Link: http://www.oestadorj.com.br/?pg=noticia&id=5384&editoria=Mundo

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