Os 50 tons da ignorância

sábado, 7 de fevereiro de 2015
Cartaz do filme Cinquenta Tons de Cinza

Por algum motivo sem muita importância, ser diferente é errado. Ou seja, ser você mesmo é um pecado mortal, do qual diariamente tentamos fugir para nos encaixar em alguma "tribo". Mas isto é ignorância: Ser guiado por algo "tradicional", que não foge aos meios e aos fins, que afirmam sobre a liberdade, mas a recriminam quando expressada. Assim é que vem surgir a enorme polêmica sobre o filme "Cinquenta Tons de Cinza".

O longa, que estreia no dia 12 de fevereiro, levantou uma onda de protestos e boicotes, em nome da "não-violência contra a mulher", "não-submissão da mulher" e até uma campanha para doações em prol das diversas mulheres que sofreram abuso sexual. O ato, como campanha, é maravilhoso. Como boicote ao filme, só prova como a população ainda se mantém na confortável ignorância, das quais tem preguiça de sair.

Várias questões passaram pela minha cabeça ao ler tal notícia: "Mas essas pessoas já leram os livros? ... Mas para se fazer uma doação é necessário boicotar um filme? Aliás, precisa esperar lançar um filme desses para ser ter a ideia?". Isso me desanima. Parece hipocrisia. Parece um aproveitamento mascarado em uma grande causa. E ainda imagino, quantos que ali comentaram já não fizeram coisas piores, seja em sexo ou violência (física ou verbal), com maridos, esposas, pais, mães, irmãos e amigos. Afinal, somos seres humanos e imperfeitos.

Porém, o desconhecimento sobre a história e sobre a própria lei é tão exacerbadamente exposto que chega a ser preocupante. Todos sabemos que o povo brasileiro não é conhecido pelo hábito da leitura, o que se pode deduzir que 90% daquelas pessoas se quer chegaram perto do livro para conhecer a história. Outros 5%, composto pela maioria de mulheres, leu o primeiro volume - o mais carregado de sadomasoquismo dos três títulos (claro, a mocinha está conhecendo este universo e está sendo apresentado para ela) e logo concluíram que a história é irreal, louca, com muito sexo, abusiva, obsessiva. E os outros 5% foi o grupo que leu tudo até o fim. Logo, esta é a nossa realidade unida à 'liberdade de expressão' presente nas redes sociais: todos comentam sem conhecer (às vezes até sem ler a notícia). Para quem não acredita, posso afirmar - como alguém que leu - que a história envolve um grande conflito psicológico e amor (sim, sim, sim!) .... Afinal, muitos frequentam as baladas, "pegam todas", tem uma noite de puro sexo (sem camisinha talvez) e obviamente isso é aceitável. Mas se for uma garota inocente com um relacionamento amoroso, firme e sério, é abominável ela aceitar ser submissa.

Aliás, isto abre mais uma discussão a respeito de desconhecimentos. Abuso sexual é a prática de atos sexuais com menores, incapazes ou capaz que se encontra inconsciente ou sem poder resistir. Em outras palavras, nada que seja retratado no filme ou no livro. Sobre a submissão, presente desde que o homem existe, ela vem sendo quebrado ao longo das décadas, o que justamente permitiu ao universo feminino ter a liberdade de escolher: a trabalhar, a votar, a profissão, a se apaixonar, a se envolver, a beijar, a fazer sexo da forma que quiser. Somos diferentes, mulheres e homens, cada um em seu momento e em sua forma de agir e pensar. Em matéria de sexo, alguns querem o romance, outros o querem sem compromisso, outros querem os fetiches, outros querem dominar, outros querem ser dominados, outros querem tudo isso. Uma vez consentido e aceito, não é abuso, nem violência.

E me pergunto qual é o problema de uma mulher dominar um homem? Ele é menos homem por isso? Ou um homem dominar uma mulher? Isso a torna sua escrava? Me pergunto, qual é o problema da humanidade? Chegamos ao ponto de interferir nas escolhas de todos em relação àquilo que pertence somente a cada um. E o que de fato é de todos - a própria violência, as drogas, a educação, a saúde, o meio ambiente, a corrupção - continua a ser o que sempre foi.

Aproveite e confira as resenhas sobre a trilogia: volume 1, volume 2 e volume 3.