Uma “critica” nas entrelinhas

segunda-feira, 21 de junho de 2010
O filme “Entre os muros da escola”, dirigido pelo Laurent Cantet e roteiro baseado no livro do escritor François Bégaudeau, conquistou muitos prêmios ao longo do ano passado. O longa metragem discute situações vividas diariamente no ensino educacional de qualquer país.
Os temas abordados fazem com que a ficção apresentada se torne um documentário da realidade sócio econômica, política e cultural da França. Pode-se dizer que apesar do enredo se passar em uma escola do subúrbio de Paris, não há quem não tenha se deparado com dilemas como os retratados no filme em qualquer parte do mundo.
O que acontece entre os muros da escola é uma perfeita realidade vivida na sociedade francesa por conta de territórios conquistados durante o período do colonialismo.
Cada aluno tem um estilo de vida diferente, seja social, econômica ou culturalmente, cada um com suas dificuldades, orgulho (ou não), descendente de países árabes e africanos, todos reunidos em uma pequena sala de aula tentando decifrar a identidade individual e coletiva. O que causa uma guerra, literalmente.
Tudo isso fica apenas nas entrelinhas, sendo ressaltado em discussões simples como o futebol, quando ocorre um bate-boca entre quatro alunos. Thierry Henry, Zidane e Thuram, jogadores da seleção francesa vieram de diferentes colônias e partes da França. Não é uma questão meramente esportiva, é também política e de integração social.
Em outro momento do filme essa situação fica bem clara, até mesmo pelo professor, quando este usa, em seus exemplos, somente nomes anglo-europeus.
Outra questão discutida é a relação professor-aluno. Em diversas partes, François, o “mestre” que dá aula de francês tenta quebrar essas diferenças étnicas, religiosas e culturais, conversando com cada um dos adolescentes e tentando se aproximar um pouco mais deles. No entanto, essa idéia de amizade e união é retalhada nos momentos em que a barreira principal aparece: a autoridade. Antes de qualquer coisa o que impera é a hierarquia, o poder constituído dentro da escola.
Essas diferenças são também mostradas na linguagem. François, em um diálogo com as personagens Esmeralda e Louisse, as chama de “pétasse” (vagabunda), sendo na visão dele uma palavra não tão agressiva quanto foi para elas. Cantet mostra um professor imperfeito e um método de ensino ferido por perguntas e respostas, nem sempre objetivas. Quando uma das alunas pergunta a François porque usar o presente do subjuntivo (que ninguém costuma usar) se existe o presente do indicativo, o professor limita-se a responder que é apenas para diferenciar um do outro e que um dia ela saberia usá-lo. Todos são peças de um jogo: o sistema educacional.
Todas essas questões retratadas em único filme e justamente no país da Liberdade-Igualdade-Fraternidade. Porém, não é só a França que passa por esses dilemas multiétnicos e políticos. O mundo todo, seja por motivos históricos (como o colonialismo) e principalmente de imigração, tem realidades parecidas. A turma que não se interessa pelo assunto, as panelas, as discussões que não levam a nenhum lugar, o desrespeito com o professor, as conversinhas, os barulhentos, os que não tiram o boné, os tagarelas, os insultos e empurrões... Qual escola nunca teve isso? Apesar dos europeus se dizerem tão diferentes das Américas, estes são problemas compartilhados por todos. São temas universais que estão dentro dos muros das escolas, mas que refletem a sociedade que somos e os países nos quais vivemos.

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