A discussão do que é jornalismo e o que é literatura é polêmica e pouco clara. A fronteira entre um e outro nunca foi bem definida e “A sangue frio” de Truman Capote não é o primeiro livro que se pode ficar clara essa distinção. Enquanto ao jornalismo cabe o factual, a objetividade e a neutralidade, à literatura cabe o papel de contar uma história que não dure apenas um dia, a análise psicológica dos personagens envolvidos e é neste momento que se perde a neutralidade do jornalismo. Enquanto um se importa com o fato, o outro chama a atenção para o psicológico. E é isto que faz o jornalismo literário e “A sangue frio” serem tão passíveis de discussão.
Capote não teve a “frieza” do jornalismo de colocar apenas o ocorrido: o assassinato de quatro membros de uma família, aparentemente sem motivo, e a execução dos dois assassinos. Porém teve a análise de questões importantes que o jornalismo não possui: a história de cada personagem, a sua vida pessoal que contribuíram de forma boa ou ruim para serem o que são.
E isto tem um preço: a perda da neutralidade, que também é tão discutível, pois nem o próprio jornalismo a possui de fato, mas pelo menos tenta “disfarçar” que ela existe. O faro e a apuração jornalística de Truman Capote ajudaram-no a construir a obra, mas o autor (e isso é bem claro durante a sua leitura) se envolve na história, principalmente em relação a Perry Smith. Ele tenta passar uma inocência (a maior que for possível) ao personagem, sempre comparando-o ao outro, Dick.
Se ligar ou se envolver de uma forma que não seja apenas entrevistador-fonte é crucial tanto para a parte jornalística quanto a parte literária, causando a perda da objetividade e até mesmo cegando-o diante da realidade (conseqüentemente, a perda do foco).
Outra crítica a se fazer e isso não é de hoje, é que Capote se recusa a utilizar gravadores e confia apenas na sua memória. Saber reproduzir 95% de um trecho de um livro não quer dizer nada em horas de entrevistas. Perder 5% de palavras ditas significa que há alteração da frase e obviamente do sentido que ela for passar. É muito bem possível segurar um gravador e prestar atenção nos traços psicológicos que o entrevistado deixa passar enquanto se expressa. Por esses fatos, as declarações dos personagens de “A sangue frio” devem ser vistas de forma cautelosa. O autor não tem provas além daquilo que está documentado pela polícia. O que resulta na falta de credibilidade nos relatos citados no livro de Capote.
Apesar disso, o trabalho investigativo e detalhista deve ser levado em consideração. A observação e a apuração ao longo do tempo fizeram nascer uma obra literária que só um escritor tem a liberdade de fazer. O título “A sangue frio”, que de início parece revelar algo obscuro e talvez de indignação, não faz jus a sua história, que mais se importa com as características e personalidades dos envolvidos do que com o fato em si.
Outro ponto que pode se tirar do livro é a demora da penalidade que os assassinos sofreram conforme foi determinado pelo juiz Tate. Ele inclusive falaceu antes da execução de Perry e Dick e os outros personagens envolvidos com Nancy Clutter, Sue e Bobby, já estavam amadurecidos, uma na faculdade e o outro casado. O que revela uma justiça tão demorada quanto a de outros países (admito que se fosse no Brasil seria ainda pior), além da questão da condenação à pena de morte, válida nos EUA até os dias de hoje.
Enfim, a reportagem e obra literária de Truman Capote é aberta a discussões e críticas de vários tipos e gêneros e “A sangue frio” mostra que todos são apenas humanos e que o limite é apenas a morte.
Capote não teve a “frieza” do jornalismo de colocar apenas o ocorrido: o assassinato de quatro membros de uma família, aparentemente sem motivo, e a execução dos dois assassinos. Porém teve a análise de questões importantes que o jornalismo não possui: a história de cada personagem, a sua vida pessoal que contribuíram de forma boa ou ruim para serem o que são.
E isto tem um preço: a perda da neutralidade, que também é tão discutível, pois nem o próprio jornalismo a possui de fato, mas pelo menos tenta “disfarçar” que ela existe. O faro e a apuração jornalística de Truman Capote ajudaram-no a construir a obra, mas o autor (e isso é bem claro durante a sua leitura) se envolve na história, principalmente em relação a Perry Smith. Ele tenta passar uma inocência (a maior que for possível) ao personagem, sempre comparando-o ao outro, Dick.
Se ligar ou se envolver de uma forma que não seja apenas entrevistador-fonte é crucial tanto para a parte jornalística quanto a parte literária, causando a perda da objetividade e até mesmo cegando-o diante da realidade (conseqüentemente, a perda do foco).
Outra crítica a se fazer e isso não é de hoje, é que Capote se recusa a utilizar gravadores e confia apenas na sua memória. Saber reproduzir 95% de um trecho de um livro não quer dizer nada em horas de entrevistas. Perder 5% de palavras ditas significa que há alteração da frase e obviamente do sentido que ela for passar. É muito bem possível segurar um gravador e prestar atenção nos traços psicológicos que o entrevistado deixa passar enquanto se expressa. Por esses fatos, as declarações dos personagens de “A sangue frio” devem ser vistas de forma cautelosa. O autor não tem provas além daquilo que está documentado pela polícia. O que resulta na falta de credibilidade nos relatos citados no livro de Capote.
Apesar disso, o trabalho investigativo e detalhista deve ser levado em consideração. A observação e a apuração ao longo do tempo fizeram nascer uma obra literária que só um escritor tem a liberdade de fazer. O título “A sangue frio”, que de início parece revelar algo obscuro e talvez de indignação, não faz jus a sua história, que mais se importa com as características e personalidades dos envolvidos do que com o fato em si.
Outro ponto que pode se tirar do livro é a demora da penalidade que os assassinos sofreram conforme foi determinado pelo juiz Tate. Ele inclusive falaceu antes da execução de Perry e Dick e os outros personagens envolvidos com Nancy Clutter, Sue e Bobby, já estavam amadurecidos, uma na faculdade e o outro casado. O que revela uma justiça tão demorada quanto a de outros países (admito que se fosse no Brasil seria ainda pior), além da questão da condenação à pena de morte, válida nos EUA até os dias de hoje.
Enfim, a reportagem e obra literária de Truman Capote é aberta a discussões e críticas de vários tipos e gêneros e “A sangue frio” mostra que todos são apenas humanos e que o limite é apenas a morte.
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