Jogos online e aplicativos vão do vício à profissão

sexta-feira, 5 de novembro de 2010
De um lado, as preocupações, exageros e doenças, e do outro, adquirir habilidades e desenvolver um plano de carreira

Por Alessandra Sabbag



A imagem criada pela sociedade sobre os jogos online e aplicativos do Orkut e do Facebook é sempre negativa. Minifazenda, Farmville, Colheita Feliz, Starcraft e tantos outros se tornaram um verdadeiro vício para crianças, jovens e adultos. Isto foi uma forma de inovar aqueles recursos básicos de recados, fotos e BuddyPoke,  de que o público estava enjoado.

Esses aplicativos deram muita dor de cabeça às pessoas, principalmente aos pais, que viam os filhos na frente do computador por horas. Para outros foi ainda pior, pois muitas peças do jogo são compradas com dinheiro real, e as crianças começaram a pagar de verdade com as economias que recebiam dos pais. ”Prefiro adiantar todos os trabalhos da faculdade e do trabalho para sobrar mais tempo para internet e jogar. Mas mesmo ocupada, entro no orkut para pelo menos colher o que foi plantado e vender para ganhar moedas”, conta Ana Paula Domingues, estudante de 22 anos.

“Acho que os pais precisam estar presentes na vida dos filhos, inclusive quando estão jogando. Os pais não tem muito tempo para gastar com isso, mas acompanhar os filhos e entender o que eles estão jogando e o que é o jogo é algo importante para que eles saibam lidar com essa situação”, afirma Renata Machado, 28 anos, formada em Desenho Industrial pela UFES e atualmente faz curso de desenvolvimento de jogos em São Paulo.

Nos Estados Unidos, uma mãe criou um grupo do mesmo estilo dos Alcoólatras Anônimos, voltado aos viciados em jogos online, pois acredita que seu filho faleceu por dependência dos games. Mas para Renata, existe o outro lado: aquele em que eles modificam a vida do jogador e ensinam lições. “Existem universidades nos EUA utilizando o jogo Starcraft II para dar aulas de gerenciamento no curso de economia. Muitos jogos, além de entretenimento, exigem do jogador raciocínios que utilizam também na vida real”, conta.

Uma outra mãe preocupada observa o filho jogando MMO (Massive Multiplayer Onlin) e descobre que seu pequeno é líder de um grupo de 100 pessoas, em busca do objetivo, da realização da missão. Nas menores coisas e peças do game, o usuário pode adquirir raciocínio, estratégia, comando e liderança. Além disso, existe uma importância econômica, já que somente no ano passado esta área gerou 30 bilhões de dólares.

Além da diversão, uma nova profissão





Com o crescente mercado dos games, a chamada “perda de tempo” ou “coisa de criança” se tornou uma bela carreira profissional que pode pagar um salário de R$ 5 mil ou mais. As universidades já abriram cursos de graduação específicos no ramo, como a PUC-SP. “Muitos alunos tinham interesse nessa área de jogos, então analisamos o que o mercado quer e bolamos um curso em 2007 que está tendo muita procura”, diz Rogério Cardoso dos Santos, coordenador do curso de Tecnologia em Jogos Digitais.

A graduação é mais barata do que outras tradicionais, na faixa dos R$600,00. Ele mesmo já trabalhou com games e conta com muito orgulho que sua caixa de entrada de e-mails chega lotada de novos alunos buscando informações. “Muitos lugares treinam pessoas usando games, principalmente no Marketing. Todos veem como entretenimento, mas eles desenvolvem uma capacidade motora ou alguma outra habilidade”, afirma Cardoso.

Os artistas são responsáveis pela criação, o design e o ambiente; e os programadores atuam em lados ainda mais complexos: é necessário pensar no jeito de andar, lutar, agir do personagem, definir as regras do jogo e o seu desempenho, os cenários e o contexto, ou seja, é uma equipe multidisciplinar. “É um mercado que vem evoluindo. Aqui no Brasil, ainda falta muito chão para se caminhar, mas a nível mundial é um mercado que já ultrapassou o cinema em faturamento. Então acredito que com o tempo isso irá mudar”, diz Renata.

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