Crítica: Filme "O quarto poder"

segunda-feira, 24 de maio de 2010
O quarto poder e a ética jornalística

Jornais, revistas , emissoras de rádio e televisão dedicados ao jornalismo, assim como os sites informativos na internet, nada disso deve existir com a simples finalidade de gerar empregos, fortunas e erguer os impérios da mídia ; deve existir porque os cidadãos têm direito à informação (garantido em todo o mundo democrático, sobretudo desde a declaração dos Direitos do Homem, de 1948, que estabelece, no artigo 19, o direito à liberdade de opinião e expressão, que inclui a liberdade de ‘procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras’, e garantindo também no Brasil, pela Constituição Federal, artigo 5º - XIV) (Sobre Ética e Imprensa, pág.33)



Não é de hoje que se discute a ética no jornalismo. A matéria prima é a notícia e cabe ao jornalista apenas o papel de informar. Porém, o filme O quarto poder, de Costa Gravas, traz novamente ao cenário a discussão do assunto, encarnado nos personagens de Dustin Hoffman (Max Brackett) e John Travolta (Sam Baily). O grande objetivo do longa é mostrar a capacidade que os veículos de comunicação tem de criar, manipular e conduzir a opinião pública. Max Brackett é jornalista da emissora KXBD. Ele andava sumido devido a uma matéria mal realizada ao lado do principal âncora da empresa televisiva, Kevin Hollander (Alan Alda). Como se diz no jornalismo, o repórter estava no lugar certo e na hora certa, no momento em que foi mandado para fazer uma pauta, junto com uma estagiária, sobre um museu que estava falindo. O ex-segurança do local, Sam Baily, demitido e desempregado, aparece armado e com dinamites na mala, apenas querendo ter cinco minutos com sua chefe para tentar convencê-la a readmiti-lo. E é nesse momento que a história começa. Max vê aí a sua oportunidade de voltar a TV com um belo furo de reportagem. Sam acaba baleando, sem querer, seu amigo e colega de profissão, Cliff. Aproveitando-se da inocência de Baily, o jornalista o manipula facilmente, conversando e fazendo-o acreditar que era possível o ex-segurança sair de lá com liberdade se lhe desse uma entrevista exclusiva e juntos, fazer com que o público o apóia-se. Brackett inclusive “monta” e “ensina” a Sam o que deve falar para os policiais e em frente as câmeras, tal é sua influência sobre ele. Editando materiais recolhidos pela sua estagiária, os dois conseguem fazer com que a população vista camisas em defesa do segurança, mesmo que ele esteja armado e fazendo sua chefe, crianças e uma professora como reféns dentro do museu. Mas Kevin Hollander, rival de Max, decide acabar com tudo isso e edita os mesmos materiais levando um ponto de vista negativo a respeito de Baily. Como era de se esperar, a população se revolta contra o mesmo homem que estavam apoiando antes. Cabe aqui uma análise e uma reflexão. A opinião pública não se mostra manipulada apenas no papel da população, mas sim, no do próprio ex-segurança. Na cena em que Max conta que entrevistou o ator Mel Gibson e que não saia apenas de “um jogo de peteca, pois esse pessoal não se abre muito”, Sam em seguida diz: “Ele gosta de jogar peteca? Eu jogo. Me daria bem com ele.” , fica clara a total inocência de um público facilmente dominado pela mídia. A manipulação da informação começa já na edição. Como foi dito, o mesmo material usado para levar uma imagem positivo do personagem de Travolta, foi usado também como imagem negativa. A própria fonte do jornalista é um meio de enganação e mentiras, uma vez que alguns tentam tirar proveito para ganhar fama em cima do caso, como na cena em que a repórter entrevista um homem que diz ser amigo de Sam Baily. A falta de ética não é apenas de um, mas sim de todos. Não se deve esquecer que o profissional está submetido as regras da empresa. Laurie, a estagiária que ajuda Max, no inicio do filme, boa garota e correta em suas atitudes, aprende com o “chefe” e já na cena final, em que o jornalista aparece sangrando na cabeça e tenta se limpar, ela o impede dizendo que está dando mais dramaticidade a matéria. A mídia é considerada o quarto poder, quando na verdade deveria ser o primeiro, pois toma providências, julga e coloca o público a favor ou contra conforme seu interesse antes mesmo dos três poderes. Além de ditar o comportamento. Estamos em uma época que sair na frente da concorrente, ter audiência e ibope, é mais importante do que a ética do jornalismo. É responsabilidade e dever do jornalista trabalhar a favor do direito a democracia e a informação, porém, alguns as distorcem para atingirem interesses particulares. Até que ponto a manipulação da mídia é capaz de influenciar a vida das pessoas e da sociedade? A resposta é vista no final do filme quando Sam liberta a todos e diz que irá se entregar. Ao invés disso, ele, casado e pai de dois filhos pequenos, explode o museu inteiro. A pergunta seguinte é se o público gosta e quer ver o sensacionalismo da mídia ou é ela que lhe impõe? E o papel de informar? E a democracia? E a liberdade de expressão? A cada dia que passa, vemos a ética ensinada nas universidades de comunicação irem por água abaixo diante de uma realidade submissa, imposta, de interesses pessoais e por isso mesmo, manipuladora (exemplo da própria estagiária). O que é preciso ser feito, não se sabe ao certo, mas esperamos que a ética volte ao âmbito profissional e pessoal do jornalista para que ninguém tenha que repetir a frase do personagem de Hoffman, “nós o matamos”.

0 comentários:

Postar um comentário