Uma chance

sexta-feira, 11 de março de 2011
É verdade que nós mulheres somos fortes e que minha vida inteira eu pensei em viver sozinha. Me achei sempre imune aos encantos masculinos, pensava que amar não era algo feito para mim. Convivi muito bem com esses pensamentos e nunca senti falta do carinho de um protetor, pois eu mesma sabia me defender. Era forte, destemida, livre. Uma rebelde nas horas que queria, nunca ninguém me disse o que fazer. As desilusões de amar e não ser correspondida não evenenavam a minha mente, sempre soube como agir, me levantar e me erguer.
Até que um dia o mundo começou a cair em cima de mim. Um terremoto passou pela minha cabeça, me deixou tonta e cai. Estava machucada, ferida, descabelada, olhando para todos os lados e não sabia identificar que lugar era aquele e nem como tinha ido parar ali. Pela primeira vez na vida, me senti perdida, sem direção e sem ajuda. A mulher auto-suficiente estava em nocaute, debruçada sobre uma pedra fria, quando o medo começou a se apossar do meu corpo e as primeiras lágrimas iam nascendo dos meus olhos.
Tudo estava tão confuso, por dentro eu estava gritando. Despertei de vez a menina frágil que havia dentro do meu peito e me encolhi até um canto onde a fumaça que se espalhava pelo ar não pudesse me afetar tanto. Como um animalzinho acuado diante do perigo ali permaneci. Estava escuro e frio.
Achei que ficaria ali por muito tempo e o choro compulsivo me dominou de uma vez. Mas naquele instante avistei uma sombra se aproximando ao longe. Vinha um homem jovem caminhando como se estivesse procurando por algo no meio de todo aquele lugar caído em ruínas. Era você. Estava um pouco machucado também, cansado e chorando.
De repente parou. Me viu. E veio em minha direção. Ficamos nos encarando por longos minutos e então comecei a compreender o objetivo da vida. Nós somos humanos, fomos criados para amar e sermos amados. E aquele seu olhar me dizia tudo! Ali, na minha frente, quase encostado ao meu rosto, estavam todas as respostas das minhas aflições mais íntimas. Compreendi que você era exatamente como eu.
E também entendi que não existe ser humano sem paixão, sem medo, sem esconder os sentimentos e querer se fingir de outro alguém. Porque amar é compreender o que existe dentro de mim e ver que ele também existe em você. É como um espelho que reflete aquilo que você nega, mas precisa ver e observar que é justamente o que você precisa.
Que olhar doce partia do nosso encontro inesperado, que calor transbordava dos nossos peitos e se chocavam no ar, nos chamando, nos guiando. Foi em seus braços aconchegantes e em seu coração carinhoso que encontrei o travesseiro de uma cama branca e macia. Minha fragilidade de outrora recuou, aquietou-se cada vez mais enquanto sua boca, muito próxima de mim, balbusiava as primeiras palavras.
Me carregou em seus braços me levando até um local mais seguro. Me senti meio boba, uma menininha, parecia cena de contos de fadas. Ah, mas quer saber? Não to nem aí pra isso. Era exatamente eu, uma menina mulher, que se rendia ao olhar sincero de um rapaz desconhecido. O que será que você via dentro de mim?
Pela primeira vez você sorriu e eu o imitei logo em seguida. Não estava forçando como tantas vezes fizera. Era um sorriso real, confiante, forte. Parecia chover, uma tempestade talvez, mas minhas energias voltaram como se o sol estivesse me banhando em raios amigos. Você também parecia estar sentindo a mesma coisa e já que nossos rostos estavam encostados um no outro, uma testa grudada com a outra como duas crianças inocentes brincando de ficarem vesgas, foi apenas um passo para - como se diz hoje em dia - 'rolar' um beijo. 
E ali estava meu espelho, exibindo em expressões angelicais tudo o que havia sido negado. Pelo visto, não era a única que enxergava como a vida é, agora. Como se acordasse de um pesadelo que virou sonho, o sol nascia do meu lado e o ambiente se transformava num lugar belo e perfumado. As feridas se foram, minhas e suas, e uma sonora gargalhada saltou de dentro de nós. Eu estava feliz. Era isso, isso era a felicidade.
Como podia eu, viver naquele mundo fantasioso e solitário? Sim, eu sei que sou forte e você também é, mas sempre vai existir um momento na vida, aqueles em que temos que enfrentar os nossos medos, que vamos precisar da ajuda de outra pessoa. Sempre existirá um instante na vida que seremos confrontados por ela, para que vejamos o erro que cometemos quando nos escondemos atrás de uma imagem.
Enfim eu escobria que ninguém nasceu neste mundo para ficar sozinho. Haverá sempre um companheiro na mesma estrada que você estiver percorrendo, e mesmo assim, tantas e tantas vezes damos as costas uns para os outros. Oportunidades de conhecer o seu herói e de ser o herói de alguém, são perdidas dia após dia. Mas felizmente fui capaz de ver o meu, alguém que me comtemplava distante, lá no fundo do peito. Não é ao acaso que as vidas se cruzam, elas simplesmente te colocam no caminho correto, nos braços e nas mãos da pessoa certa para que cuide de você quando não existir mais força para prosseguir. 


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