Tecnologia invisível aos olhos humanos evolui aos poucos, trazendo benefícios surpreendentes, mas alguns riscos preocupantes
Por Alessandra Sabbag
Por Alessandra Sabbag
Muitas pessoas já ouviram falar no termo nanotecnologia, mas mesmo assim não sabem e nem fazem ideia do quanto ela está presente em suas vidas. Ou, melhor ainda, do quanto ela é essencial e importante para nós. A nanotecnologia é a tecnologia usada para manipular pequenas estruturas - a partir dos átomos - e criar outras novas, praticamente imperceptíveis. É através dela que temos hoje equipamentos eletrônicos como o chip e o marca-passo, por exemplo.
“Nanotecnologia? Já ouvi essa palavra em algum lugar, mas não faço ideia do que é. Algo relacionado a TI (Tecnologia da Informação) talvez”, diz com expressão confusa a vendedora Michele Alves dos Santos. Apesar da incerteza que ronda o tema, ele é bem abrangente. A medicina é uma das áreas que mais se beneficia e estuda as diversas possibilidades de recuperação de um paciente doente em escala nano, utilizando-se de cateteres, válvulas cardíacas e implantes.
Futuramente, dispositivos serão injetados na corrente sanguínea para detectar e curar células cancerígenas. A engenharia de tecidos é uma das fases de testes atuais no mundo, pela qual os ossos poderão se regenerar e os tecidos do corpo humano poderão ser reparados, substituindo transplantes de órgãos e dando como resultado a extensão da vida. Os fármacos serão menos agressivos aos pacientes, não terão efeitos colaterais e sua eficiência aumentará. Porém, será que a Nanotecnologia irá mesmo se popularizar um dia?
“A nanotecnologia tem as mesmas qualidades da microeletrônica em permitir produção em massa e, portanto, um baixo custo de cada unidade produzida. Obviamente, a popularização depende das políticas de cada país. Nós estamos começando nosso processo de inclusão digital no momento que os tablets estão em moda no primeiro mundo”, afirma Gilberto Weissmuller, do curso de Nanotecnologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Além da medicina, outras áreas também podem se beneficiar, como biologia, química e agricultura, além de produção de energia, dispositivos semicondutores, memória eletrônica, aeroespacial, protetores solares, satélites, televisores e computadores em geral. “A revolução industrial aconteceu sem a existência de profetas. A revolução nanotecnológica acontecerá”, completa Weissmuller.
Entusiasmo do meio científico requer cautela
Geralmente, oportunidades e ameaças caminham lado a lado e com a nanotecnologia não é diferente. O uso sem o preparo adequado da tecnologia avançada deu à humanidade histórias amargas no passado, como acidentes em indústrias químicas e nucleares. O que aconteceria se os objetos feitos em escala nanométrica fossem usados para guerras? Ou se a própria tecnologia tivesse um efeito colateral?
Nanomaterias gerariam nanopoluição conforme seu processo de produção, uma poluição invisível a olho nu, que tem capacidade de viajar a grandes distâncias pelo ar. As células do ser humano as absorveriam facilmente através da respiração, assim como também animais e plantas, causando danos desconhecidos. Em uma visão ainda mais crítica e inacreditável, haveria ainda um risco no nanomontador, uma máquina capaz de construir objetos macroscópicos, isolado ou em equipe (e para isso é necessário um sistema de comunicação entre eles).
Um nanomontador universal poderia criar qualquer objeto, inclusive outros nanomontadores, se reproduzindo descontroladamente e, como uma epidemia, ameaçar a vida humana e extingui-la da Terra. “O que devemos exigir das autoridades é uma rígida regulamentação desta e qualquer outra nova tecnologia. Se cientistas competentes desenvolvem a tecnologia, outros tão competentes quanto deveriam cuidar da segurança. Uma piada que faço com meus alunos de nanotecnologia: vocês não terão menos oferta de empregos por causa da segurança, terão o dobro”, afirma o professor.
Ele completa o raciocínio tomando como exemplo o caso da talidomia. “Os fracos protocolos de segurança que os fármacos deviam preencher na década de 1950 permitiram que a droga fosse amplamente usada por mulheres grávidas. Dez mil casos de má formação congênita depois, a droga foi retirada do mercado”. No Brasil, a talidomia ainda perdurou por mais quatro anos. Como Weissmuller disse, “é arriscado prever riscos. Tudo pode acontecer”.
Eric Drexler, o homem que iniciou os estudos com a nanotecnologia na década de 1980, conta que os nanomontadores não apareciam por acidente e não viriam do nada. “Alguém teria que projetá-los e construí-los, o que seria uma tarefa difícil e sem utilidade. Hoje em dia, o que mais me preocupa é a ênfase exagerada com que essa possibilidade é tratada. Isso acaba tirando a atenção de questões mais importantes, como o uso deliberado de tecnologias poderosas em sistemas de armamento. É aí que os cientistas e formuladores de políticas públicas deveriam se concentrar”, afirma.
No período de 10 a 12 de novembro do ano passado, o Rio de Janeiro recebeu a sétima edição do Seminário Internacional de Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente. Na ocasião, pesquisadores de diversas partes do mundo e acadêmicos da área puderam discutir a atual situação do uso da tecnologia em escala nanométrica e suas perspectivas para um futuro próximo. Confira o site oficial do seminário e saiba mais sobre o tema: http://www.nanoseminar.com.br.
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