Na quinta-feira após o carnaval, um cachorrinho de porte médio, porém pequeno, estava na porta de casa, deitado, quietinho no canto. Ritchie e Simba ficaram loucos é claro, mas isso não assustou o cãozinho de pelagem toda preta. O que realmente o assustou foi o meu pai, que o 'expulsou' para a rua novamente e a última pessoa com quem ele foi fazer amizade.
De nada adiantou. Daqui uns minutos lá estava ele novamente. E como meu irmão tem um coração molenga quando se trata de cachorros, decidiu cuidar dele (estava com a patinha mancando) até que pudéssemos deixar em um lugar para adoção. Na mesma noite o levamos na veterinária e naquele dia em diante descobrimos o quanto é difícil e trabalhoso cuidar de um cão de rua, no sentido de que ele não tinha um local que o acolhesse tão já como era de necessidade. Felizmente, o peludinho estava com saúde boa, tinha sido possivelmente atropelado mas não chegou a quebrar a pata, apenas inflamou. De acordo com a "Tia Vet", como costumo brincar com os meus cachorrinhos quando os levo lá, o abandonado tinha por volta de dois aninhos de idade e não ia crescer mais.
Sem lugar no hotel veterinário, "THOR" como o batizamos, voltou para casa. Amável, doce, alegre e muito companheiro, todos os cuidados foram dados e logo ele estava caminhando, pulando em cima de nós e até fugindo para a rua de novo! O Thor é o típico cãozinho que todo mundo se apaixona só de olhar: carinha de criança, olhar suave e pidão, orelhinhas pequenas que ficavam em pé ao ver alguém chegar. Estávamos loucos para colocar ele para dentro de casa, junto com os dois baixinhos que já temos, mas primeiro providenciamos as vacinas e lógico, não demorou muito para o pretinho entrar na casa do meu irmão.
Enquanto ele cuidava da saúde - e financeiramente de sustentá-lo - coube a mim a parte de tentar arrumar um novo lar, pois mesmo que quiséssemos seria complicado ficar com o Thor em casa. Comecei então pelo Facebook: marquei amigos, deixei meus contatos, pedi que compartilhassem e fiz a maior campanha, até a veterinária entrou nessa lista. Mas foi então que comecei a perceber o quanto as pessoas são mais complicadas ainda. Para começar, nem todos os amigos que marquei compartilharam, mesmo aqueles que eu julgava - e se diziam - adorar os animais, e o número de compartilhamentos chegou a pouco mais de 30 (só na minha página, sem contar o dos amigos, o de pessoas desconhecidas que não sei como acharam aquilo, e de clínicas veterinárias). Liguei para alguns lugares e nada, todos lotados! Alguns realizavam feiras apenas. A situação era estressante demais e comecei a pensar que seria esse o motivo que muita gente vê um cão de rua e não o leva para casa para tentar a adoção. Simplesmente não existe possibilidade para adoção, principalmente porque falta alguém para adotar. Outros lugares exigiam que você assinasse termos de responsabilidade caso o Thor fosse devolvido à instituição, mas acredite, se responsabilizar por um animal não é tão simples, creio que seja um compromisso tão grande como ter um filho. Adotar é difícil, adoção é pior.
Foi então que pouco mais de uma semana depois, uma moça me ligou (uma jornalista que trabalhava em um grande veículo) e se diz interessada. Mas no dia combinado ela não apareceu, nem deu satisfação - por mim estava descartada, não mereceria jamais um cachorrinho tão carinhoso como o Thor. Logo depois ligou outra moça dizendo que o amigo estava interessado e desta vez vieram vê-lo, até correram atrás do Thor quando ele fugiu de novo pelo portão - e acabou voltando sozinho (rs). Enfim, decidiram não ficar com ele e isso foi um banho de água fria na nossa esperança de arrumar um novo lar. Porém, a moça compartilhou a foto com o recado no Face, e apareceu um novo interessado. Ela logo mandou uma mensagem, depois me ligou, para dar a boa notícia que outro amigo disse que o queria.
Fiquei feliz novamente, mas já esperava que em casa a reação fosse de um pouquinho de tristeza. Hoje, sábado, 10 de março de 2012, o lindo Thor foi acolhido (meio a contra-gosto, pois ele sentiu que 'aquele homem' estava querendo levá-lo embora) por um rapaz jovem que já tinha outros animais - todos vindos da rua ou abandonados. Neste momento ele deve estar pulando e correndo em uma bela chácara de São Roque, feliz com os novos amigos e com os novos donos. Às vezes, não vou negar, eu pensei "Poxa, será que estou fazendo a coisa certa? Será que ele não é nosso? Será que vão cuidar bem dele?" ... a desconfiança sempre vem à cabeça, inevitavelmente. Por isso, dois dias antes da visita do rapaz eu tinha que aproveitar que estávamos sozinhos para 'conversar' com ele (e eu não sou louca) sobre a mudança que teria em breve. Ele estava do meu lado, comigo fazendo carinho na barriga e como não vou relatar aqui o que disse para ele, resumo que chorei um pouquinho e ele me olhava com compreensão e ternura. Parecia que tinha entendido os meus motivos por não poder deixá-lo ficar e no final ganhei umas lambidas na mão. Em seguida deitou e dormiu.
Vou sentir saudade Thor...todos nós vamos. Mas tenho certeza que você vai ser muito feliz em sua nova casa, onde terá o espaço e a liberdade que sempre quis ter aqui. Aproveite a sua nova vida, brinque bastante e faça outra família ser mais alegre com a sua presença....Amém.
Thor quando chegou em casa pela primeira vez |
Thor no último dia em nossa casa. |
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