Crítica: O Nome do Vento (A Crônica do Matador do Rei)

domingo, 17 de maio de 2015


Com uma narrativa simples, um enredo místico, personagens complexos e cenários exóticos, Patrick Rothfuss misturou em um caldeirão todos os ingredientes que eu sempre acreditei que as histórias de fantasia e aventura deveriam ter: realidade e magia. O título por si só já me agradaria, pois afinal O Nome do Vento é uma junção de coisas inexistentes, magia, romance e mistério, unidos em um personagem que se acha tão comum quanto o leitor que o lê.
Alguns capítulos são narrados pelo protagonista e outros por um terceiro ou quarto personagem que acompanha a história de vida dele e nos mostra diferentes pontos de vista da sua personalidade. Kvothe, que no início não passa de um simples estalajadeiro se revela, na verdade, um exímio "alquimista", "mago" - ou seja lá o que você preferir chamar -, dotado de uma inteligência peculiar e uma prematuridade em tudo que coloque as mãos. Enquanto em sua narrativa diversas vezes ele "se mutila" e faz questão de não dizer que é um homem bom ou santo, e que ainda assim conseguimos perceber que ele é um sábio, os demais personagens nos revelam o caráter um homem íntegro, mas que ao mesmo tempo é extremamente temido. No fundo, o leitor sabe de todos os medos e criancices de Kvothe e simultaneamente o admiramos por, apesar disso tudo, tomar a coragem e jamais admitir a dor para os que estão à sua volta.
Aprendemos a admirar a sua personalidade, a compreender as suas emoções e às vezes até enxergamos a nós mesmos. Mas, por outro lado, ele se revela um personagem complexo, com traumas profundos cravados em sua memória e na sua pele, envolvido em mistérios, mortes, lutas e fatos que ainda não são bem explicadas neste primeiro volume da série A Crônica do Matador do Rei.
O Nome do Vento seria um livro quase perfeito se não fosse pela existência de Denna, a garota que faz seu "flerte" com qualquer homem do vilarejo e pela qual Kvothe deixa a astúcia de lado para peregrinar a sua procura incansáveis vezes. As cenas que se passam após um casamento desastroso (não vou dar spoilers aqui, ok?) em que os dois investigam os acontecimentos são chatas e particularmente, Denna não é mulher para esse tipo de enredo. O seu amor parece mais um oportunismo para que ela ganhe destaque na história do "herói".
Enfim, após ter visto a morte de toda a sua trupe - ele é um artista! - e de seus pais pelo que chamam de Chandriano, um demônio, viver miseravelmente em uma cidade suja e conseguir entrar na Universidade onde aprende todas as magias, Kvothe nos faz torcer do começo ao fim. Rothfuss criou um personagem de inteligência sagaz, uma coragem ácida e que ao mesmo tempo possui esse humor negro, mais negro do que humorístico, um lado sombrio onde todos o temem e o bobo apaixonado que é capaz de tudo por uma mulher.
São mais de 600 páginas para que o leitor se encante por sua historia e tente, nas entrelinhas, desvendar o que virá a seguir. Que tente decifrar o que esse Kvothe mais velho e experiente possui de tão diferente do menino que era, ou se de fato ainda não são a mesma pessoa. Que tente entender os mistérios do Chandriano ou ainda, popularmente falando, "qual é" a de Denna no meio dessa confusão. Patrick criou o personagem que todos gostaríamos de ser um pouco e que se mostra tão humano e imperfeito quanto somos na vida real. Temos um personagem que não nos apaixonamos, mas aprendemos a admirar e respeitar. E é por isso que a próxima parada é O Temor do Sábio, sem pensar duas vezes.

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