Filme "Spotlight: Segredos Revelados" |
Definitivamente este não é o filme para ganhar o Oscar de Melhor Filme. Este é o filme feito para ganhar a razão e a emoção. Spotlight: Segredos Revelados, que concorreu à premiação nesta categoria, não venceria realmente. A sua proposta é a de ser um roteiro muito bem adaptado e prender a atenção do público em cada mínimo detalhe.
É impossível que uma única pessoa seja capaz de percebê-los e a maioria com certeza deixará muitos deles passarem batidos. A grandeza do filme está justamente na sua complexidade em tratar a realidade nua e crua, tal qual é. O longa conta a história da equipe de jornalistas que investigam os casos de pedofilia na Igreja Católica que ouvimos nos noticiários em anos anteriores - Sim, estamos falando da vida real - e requer muita concentração nos diálogos bem estruturados e nas cenas mudas, que podem dizer tanto quanto aquele momento de debate sobre pautas.
Spotlight não é aquele filme que busca simplesmente retratar o jornalista como o herói que salva o dia. Não há espaços para clichês. Não há espaço para mais do mesmo. Não há espaço para a pura emoção e a banalidade com que muitas vezes o cinema a usa para fazer o público chorar. O objetivo é falar da realidade, e a realidade é dura como uma pedra.
O caso de pedofilia nesta que se diz a mais santa igreja, se torna coadjuvante perto de outra questão muito bem explorada pelo diretor Thomas McCarthy: somos seres humanos, às vezes cegos pelo egocentrismo, às vezes usados por um sistema de interesses e às vezes apenas humanos. São tantas questões, tantos temas que podem ser vistos jogados aos nossos olhos, cena após cena, que seria impossível uma crítica breve e curta. É imprescindível a observação, mas claro, um jornalista de verdade verá de um jeito. Outros, de outras profissões, verão ainda de outra forma.
O que se pode afirmar, de uma maneira geral, é que o longa é uma crítica e ao mesmo tempo um apoio à imprensa. Em tempos de crise política, como esta que o Brasil vive atualmente, estamos divididos entre contra e à favor de algo ou alguém, e neste meio estão os veículos de comunicação, tido como "manipuladores" de informação. Spotlight chega para posicionar de uma vez por todas o que é a imprensa:
1. Essencial para expor e trazer a público o que é do público. A equipe que move um veículo de comunicação, tenha ele mais ou menos influência, pode mudar a história! Pode colocar nomes nos culpados, pode revelar segredos obscuros, pode tocar o dedo na ferida e fazer doer (e muito!). A imprensa é o único meio que dá voz à população.
2. O jornalista é humano. Ele erra, ele se engana, ele deixa passar. Impossível ser perfeito em uma profissão onde a própria reunião de pauta é um "filtro" dos assuntos - ou seja, fatos importantes serão ignorados - e a própria imprensa, que faz parte de uma indústria da comunicação, precisa saber vender e ter lucro.
Spotlight retrata exatamente isso. O quanto somos humanos dentro de um sistema imperfeito. O quanto ainda precisamos saber refletir na enxurrada de informações que nos batem a porta minuto a minuto, sem dar grande valor ao que ela carrega. O quanto necessitamos saber a hora de abaixar a câmera, o bloquinho e a caneta, e aprender a observar o que acontece no interior do outro - desconhecido ou familiar -, e no nosso interior.
Não é um filme para se chorar, mas confesso que me emocionei. Me emocionei porque sou jornalista e recapitulei mentalmente quantas histórias passaram por mim que ninguém nunca irá saber ou conhecer e sempre me perguntei quantas ainda estão por aí sem serem contadas. O que é esse mundo engessadamente corporativo que nos diz que a emoção não deve ser expressada? O que é esse mundo que nos obriga a viver apressadamente sem saborear os detalhes? O que é esse mundo que tem tanto poder nas mãos e tantos problemas psicológicos na cabeça?
Spotlight é para nos trazer de volta à vida, ou melhor dizendo, nos fazer reviver a história sob uma nova perspectiva. É pensar. É refletir. É se emocionar. E finalmente agir, sem medo. Spotlight lembra a mim (e a qualquer outro jornalista, tenho certeza) o quanto somos humanos e do motivo pelo qual escolhi esta profissão... E neste momento, só tenho a agradecer por isso.
0 comentários:
Postar um comentário