Críticas: "A Arma Escarlate" e "A Comissão Chapeleira"

domingo, 8 de março de 2015
A literatura estrangeira toma conta das prateleiras de qualquer estante. Assim como em todos os demais campos - cinema, programas de TV, desenhos, etc - a literatura nacional é sempre tida como o clichê, a cópia de tudo que é apresentado lá fora. Com A Arma Escarlate não é diferente, mas ao mesmo tempo é.



J.K. Rowling, a autora de Harry Potter, inspirou milhões de crianças e adolescentes a criarem as suas próprias historias e durante uma entrevista foi bem clara ao dizer que qualquer um poderia criar o seu universo mágico. Foi um "fiquem à vontade" e o ponto de partida inicial para que Renata Ventura desenvolvesse uma história sobre o mesmo mundo bruxo adaptado as condições brasileiras: costumes regionais, escolas com ensino deficiente, lendas da cultura como o saci e a mula sem cabeça, favela, paixão e drogas. Na história, Hugo é um menino que tem vergonha de onde vem, descobre que é bruxo, adota outro nome, pega uma varinha (aparentemente super poderosa) sem pagar e começa por fazer diversas coisas erradas.
Li  A Arma Escarlate na esperança de ver que a literatura nacional fosse mais do que um clichê e que pudesse, de certa forma, também mostrar o que há de bom em ser brasileiro. Infelizmente, pelo menos neste ponto, tive uma certa decepção. Os pontos "podres" do Brasil são inúmeros e sabemos disso, mas não somos únicos - Ou será que alguém acredita em toda a magia perfeita que existe na Europa? Nos EUA? Qual o real motivo de termos eles como exemplo e não nós mesmos? Eles também sabem de seus erros e pecados, mas não mostram descaradamente para o mundo. Isso certamente precisamos aprender com os americanos e europeus. Todos sabem que o sistema de saúde dos EUA é precário se comparado até mesmo aos daqui, porém, ninguém diz.
Colocar em um livro os tiroteios, mortes e o vício das drogas é bom por um lado e péssimo de outro. Porque não mostrar o lado bom do Brasil? Caímos novamente naquele velho pensamento de que no Brasil só existe isso: Favelas, bandidos, corruptos, drogas e carnaval. Por isso, Hugo é um personagem detestável, arrogante, petulante, um anti-herói. Tenho certeza que Renata Ventura desenvolveu o enredo pensando justamente nisso, pois não acredito que a intenção dela fosse outra a não ser montar esse cenário e essa caricatura de pessoa que são realidade em nosso país. 
Tive apenas um motivo para continuar a saga e ir adiante para o segundo volume, A Comissão Chapeleira



E esse motivo tem um nome: Capí. Capí é simplesmente aquele ser humano que nós desejamos ser ou que pelo menos queremos ter como amigo e companheiro. Capí é a personificação do que há de melhor no mundo e em suas palavras encontramos os conselhos e a esperança que muitas vezes sonhamos em ouvir. Capí é um personagem que nos faz termos vergonha de nossas ações, que nos emociona e que nos inspira a sermos diferentes. Ele é tudo o que sempre busquei encontrar no meu íntimo e no das pessoas ao meu redor.
As melhores frases são dele. Os diversos conselhos e "segundas-chances" que ele dá a Hugo muitas vezes é aquilo que você precisa ouvir também. Afinal, todos somos um pouco Hugo, um pouco Capí, um pouco Viny, um pouco Abelardo, um pouco Caimana...A Comisão Chapeleira prende do começo ao fim e te desperta de uma forma que não senti em A Arma Escarlate. Você consegue respirar a tensão e ao mesmo tempo a tranquilidade. Torce - e muito! Confesso que em determinado momento cheguei a pensar: "Não Renata, você não fez isso, pelo amor de Deus!" (quem leu sabe do que falo) e se ela tivesse feito, certamente eu mesma teria ido atrás dela e tiraria minhas satisfações (a conheci na Bienal 2014). 

Eu e Renata Ventura

Enfim, é bom ver o mundo bruxo de volta, mas melhor ainda é ver que existem personagens que nos inspiram. Vamos além: o melhor de tudo é ver a literatura nacional abrindo novas portas para os leitores da fantasia. Que venham mais livros!

E por favor, que deixem o Capí em paz. 

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